Saindo do Abuso - Mito " La Loba"
- Andrea Quirino
- 1 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Tem uma história que quero compartilhar
É a história de uma mulher que conseguiu enxergar
Como da dinâmica do abuso não conseguia se libertar
E por isso é tão importante contar
Que no dia em que entendeu ‘como’ a criança ferida fazia a conexão
Com o homem que encaixava nessa fricção de sempre criar a desilusão
Teve força de lutar a boa luta da compreensão
O que ela viu é que tinham duas mulheres em seu peito
Uma menina imatura que mendiga amor e respeito
Ela tinha uma meta de ter a segurança do homem amado
Mas de ter a qualquer custo mesmo se o preço fosse dobrado
Para essa metade o valor estava em como era apreciada
E para isso foi treinada a ficar apagada e calada
Dizer sim pra tudo e ainda se sentir culpada
Receber atenção era a meta a ser alcançada
Esse homem também era por sua criança afetado
Se sentia valorizado quando era disputado
Criava cenas de ciúmes e traição para chamar atenção
Terminava fazendo juras com muita paixão
Para a menina imatura essa era a felicidade pura:
“Quase o perdi mas no fim fui a escolhida e sou a prometida
E assim sigo sendo a sua preferida”
E assim se dobra o ciclo do amor imaturo
Onde a dor é parte fundamental do jogo obscuro
De quem joga pra ganhar e quer receber sem dar
E somente ao próprio umbigo olhar
Mas quando a dor irrompe a outra mulher do peito
Aquela que é adulta se pergunta: como é que eu aceito?
Como fico aqui a chorar somente para ter esse homem de par?
Para a parte da mulher madura nada disso faz sentido ou cura
Mas um dia ela se perguntou: mereço de fato receber amor?
Nesse dia chegou a compreensão que amor maduro faz outra conexão
Porque quem ama sabe dar amor e por justiça pode receber sem dor
Mas não era tão simples assim sair do jogo da dor sem fim
Porque dentro dela estava a menina ao pé do homem agarrada
Precisava ser consolada da dor das perdas da infância
E ver de perto a sua real insegurança
Essa menina tem medo da vida e da solidão
Racionaliza os sentimentos e sempre acha que tem razão
Ao buscar ser amada o faz com compulsão
Exige muito do outro e depois faz acusação
Eita menina danada, por ignorância é traiçoeira
Encontra outra criança ferida e fica fazendo a besteira
De envolver um assunto tão sério na sua brincadeira
De ferir e ser ferida uma vida inteira
A dor a ser chorada é a dor da infância
Sustentar a verdade é de maior importância
A infância não volta mais, não vamos mais insistir
A dor do agora é outra, já não vale mais confundir
Vamos curar a carência faminta dessa criança ferida
Para libertar a mulher que quer ser feliz e bem sucedida
Ter um homem ao seu lado que tem a possibilidade
De saber dar afeto e calor e de viver na verdade
Na luta sem consciência a mulher se embrutece
Fica frágil, sem auto-estima e depois se empobrece
De si mesma se esquece e amargurada envelhece
A luta com consciência difere em peso e habilidade
Olho pra dentro e encontro o buraco da hostilidade
Identifico que é dor e medo de rejeição
Também tem muitas imagens e fantasias sobre solidão
Já não sou tão impotente, nesse barco tomo o leme
Recrio a direção em que navega meu coração
Vou para o continente do amor maduro sem medo de arriscar
O homem que tem tamanho pode vir me acompanhar
Tem duas em meu peito, isso eu posso afirmar
Uma não vai sumir ou a outra assassinar
A integração acontece quando isso eu sustentar
Que a ferida da alma sou eu quem pode curar
Texto: Andrea Quirino de Luca

Foto: Engin Akyurt
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